Da decisão de ir embora ao pedido de demissão

Foi em agosto de 2018, enquanto eu estava de férias e no meio de uma viagem, que cheguei à conclusão de que estava na hora de pedir demissão.

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Foi em agosto de 2018, enquanto eu estava de férias e no meio de uma viagem, que pensando sobre a vida cheguei à conclusão de que estava na hora de pedir demissão. Foram vários os motivos que me levaram tomar esta decisão e o processo começou muito antes. Só que foi ali, sem entender direito o porquê, que o sentimento de que era hora de sair virou uma decisão.

Estava conversando com uma amiga que tinha feito uns dias atrás, durante a viagem. No meio de uma fala, eu disse que na mesma hora do ano seguinte eu provavelmente não estaria mais no meu emprego atual. Eu não sabia que dia iria comunicar meu interesse em me demitir, quando sairia da empresa, como iria fazer isso, o que iria fazer depois, mas a decisão parecia bem clara.

Eu não tinha planos de como faria para ganhar dinheiro no futuro, mas tinha certeza que era hora de sair do meu emprego atual. Mal sabia eu que entre a decisão daquele dia e meu último dia de trabalho estariam interessantes seis meses.

Homem olhando para água como se tivesse de férias

Por onde começar?

Voltei de férias e comecei a fazer contas e ver como faria para colocar minha decisão em prática. Também comecei a adaptar minha rotina para uma experiência sem emprego fixo. Eu queria sair do trabalho para explorar um mundo novo. Arrumar um outro emprego não estava nos planos e precisava ver como iria viver assim.

Uma coisa que me ajudou a ter segurança é que desde que comecei a trabalhar, sempre tive o hábito de guardar parte da minha renda. Eu encarava estas economias não só como um valor financeiro, mas como tempo.

Eu olhava para o meu custo mensal e olhava para quanto dinheiro tinha guardado. Assim, eu sabia quanto tempo eu tinha guardado.

Quanto mais tempo eu tinha, mais liberdade e opções eu enxergava na minha frente e o trabalho atual era apenas um dos caminhos.

Sabendo a quantidade de tempo, eu precisava saber mais duas coisas:

  • O que eu gostaria mais de fazer com meu tempo?
  • Eu seria disciplinado o suficiente para fazer o que fosse necessário sem ninguém me cobrando? Sem nenhuma pressão externa?

Os sonhos da última gaveta

Frente de uma gaveta que parece antiga

Sabe aquele monte de coisa que a gente quer fazer e deixa sempre para depois, por que diz que agora não tem tempo? São sempre a última prioridade? Comecei a olhar para cada um deles e tentar descobrir quais eram invenção e quais não eram. Também pensei nas coisas que gostaria de saber fazer e não faço, mas nunca tinha pensando antes.

Uma das coisas que sou mais grato é ter aprendido a me comunicar em inglês. O idioma abriu um mundo de experiências e oportunidades que não consigo imaginar como seria minha vida se eu não soubesse. Uma vez ouvi uma frase que dizia que cada idioma que você fala, representa uma vida diferente. Só posso concordar. Assim, uma prioridade era manter um aprendizado constante de idiomas.

Também me sentia muito bem quando conhecia um lugar novo e pessoas novas. Comecei a viajar depois de adulto e voei de avião a primeira vez quando tinha 19 anos, graças ao meu irmão. Desde a primeira vez eu senti que queria fazer aquilo muito mais vezes. Não é uma surpresa eu ter decidido sair do trabalho no meio de uma viagem.

Essas vontades eram mais evidentes, mas levantei um bando de outras. Uma lista que eu atualizo até hoje. Ela tem coisas tão simples quanto aprender a assoviar com os dedos ou tão complexas quanto saber tudo que é necessário para construir e manter um site. Construído do zero e sem a ajuda de ferramentas como o Wordpress.

A disciplina necessária

Uma coisa que eu sabia, baseado na minha experiência, era que eu não tinha muita disciplina para me motivar sem a ajuda de pressões externas. Depois de sair da faculdade eu sabia que seria muito difícil estudar para um concurso público, por exemplo.

Eu já tive muita dificuldade de estudar para me formar. Eu sempre fui responsável com o compromisso que fazia com outras pessoas, mas não conseguia investir pesado em algo sem um resultado claro para mim mesmo. Se eu queria sair do trabalho, era hora de provar o contrário.

Quem via de fora e um pouco de longe, podia ter uma opinião diferente. Eu sempre tive uma boa disciplina para fazer o que achava importante e o que eu gostava. Meu maior problema era conseguir investir a mesma energia para fazer algo que eu não gostava. Eu tenho a mesma mania de todo mundo.

Gosto de imaginar o resultado, mas evito o sofrimento do processo para conseguir chegar lá.

O que decidi foi inserir atividades suficientes fora do meu expediente do trabalho. Sendo que algumas coisas me dariam prazer em fazer e outras eu sentiria dificuldade. Eu queria espremer minha jornada de 8h no meio da maior quantidade de atividades possíveis. E sim, final de semana teria de virar dia útil.

Eu queria atingir dois pontos. Deixar a situação incomoda o suficiente para perceber que se eu trabalhasse menos horas, estaria rendendo mais. E queria saber se cheguei no ponto em que eu estava fazendo por tempo suficiente que indicasse que aquilo não era um comportamento passageiro. A boa notícia é que por volta do final de setembro eu já estava me sentido seguro.

O plano de demissão voluntária

Ainda não sabendo quando sairia da empresa, recebo um email da área de recursos humanos. A empresa estaria incentivando a saída de funcionários, demitindo quem tivesse mais de cinco anos de casa e optasse por sair. A demissão incentivada era um cenário muito melhor que a demissão simples. Eu ganharia muito mais tempo extra.

A proposta ainda teria que passar por mais uma aprovação, mas quando chegava neste ponto de enviar um email, geralmente era porque a discussão já tinha sido realizada. As adesões começariam em novembro e os desligamentos se iniciariam a partir de fevereiro de 2019. Logo pensei que se não fosse agora, não seria nunca. Caiu a ficha que fevereiro seria o meu último mês e era hora de passar meu plano para algo mais concreto.

Foi aí que uma boa notícia virou um problema. A empresa percebeu que a proposta iria gerar desligamento de pessoas que não eram alvo do programa. Ele não foi aprovado e deixou de ser uma opção. Apesar de continuar como uma incerteza até pouco tempo antes de eu sair do trabalho.

No entanto, me ajudou a perceber que eu estava usando a proposta como desculpa. E que não fazia sentido eu me apegar aquilo para tomar minha decisão. Afinal, o dinheiro extra me daria mais tempo, mas na verdade não faria diferença no que eu estava buscando.

Assim, se me restava alguma dúvida, o cancelamento do plano de demissão incentivada me deu toda a certeza que eu precisava. A decisão estava tomada. Meu último mês de trabalho seria no máximo fevereiro de 2019.

É hora de abrir o jogo

maos de duas pessoas sobre uma mesa segurando um café como se conversassem

Eu me sentia preparado e já sabia quando pretendia sair da empresa. Estava na hora de deixar de ser segredo e começar a contar para amigos e minha família. Sentir a reação deles e ouvir argumentos que pudessem me fazer repensar minha decisão.

Podia não parecer, mas as dúvidas e o frio na barriga eram companhia diária. E dúvidas eu tenho até hoje.

Comecei falando com amigos próximos e meu irmão. A recepção, como eu esperava, foi muito boa. Apoio de quem você gosta é ótimo em mudanças como essas. As perguntas também me ajudavam.

Lembro que antes de conversar com meu pai, no dia do aniversário de um amigo meu, sentei-me com ele e sua esposa, também uma ótima amiga. Contei meus planos e pedi que fizessem todos os questionamentos que tivessem na cabeça. Como ela estava grávida, eu sabia que seria um bom treino para eu me preparar para as dúvidas do meu pai. As perguntas foram ótimas e quando falei para o meu pai, ele não perguntou nem 10% do que eu tinha respondido. Obrigado, meus amigos.

Depois da família e amigos, era hora de avisar no trabalho. E eu esperava que fosse mais fácil. Foi aí que o jogo mudou.

Voltando para minha equipe anterior

Eu estava trabalhando em um projeto especial, em uma equipe separada. Este projeto tinha uma data de entrega definida para até o dia 15 de dezembro de 2018. Eu tinha decido que para não gerar mais incerteza em um projeto que já era complicado, comunicaria minha saída um dia após a entrega do dia 15. Isso daria algum tempo para que pudessem me substituir com maior tranquilidade.

O que eu não sabia é que dia 12 de dezembro, uma quarta, me comunicariam que eu sairia do projeto e voltaria para minha equipe antiga. Lugar que eu havia saído por volta de um ano e meio atrás. Eu sabia que meu chefe não estava muito contente com minha atuação e desempenho na equipe, mas não esperava a mudança.

A notícia tinha o lado positivo e o negativo. Eu iria voltar para a equipe que me recebeu assim que fui contratado pela empresa e estaria rodeado de vários amigos de longa data. Por outro lado, como eu iria avisar meu novo, e antigo, chefe que eu queria pedir demissão, sem que isso parecesse uma retaliação com a mudança de equipe? Como sair no meio de uma mudança sem ninguém achar que eu estava chateado, insatisfeito ou coisa parecida?

Eu só estava grato por tudo que tinha acontecido até ali na empresa e não queria sair com ninguém pensando o contrário.

O lado ruim estava apenas na minha cabeça

Sem tomar nenhuma atitude, voltei para a equipe antiga e dias depois entrei de folga por duas semanas. Iria aproveitar o Natal e o Ano novo. Passei o Natal com minha família, mas logo depois viajei por 10 dias, sozinho. Pensando sobre minha situação, cheguei à conclusão que a primeira coisa que eu deveria fazer quando voltasse, seria avisar meus chefes atuais de que eu queria sair.

Eu sabia que a equipe já estava planejando o ano seguinte contando com minha presença. Era difícil ver isso acontecer e não falar nada. Eu gosto demais de todo mundo e estava sendo injusto com eles. Era preciso fazer o certo e não o que me deixaria mais confortável.

É claro que várias pessoas que não me conhecem poderiam bolar mil teorias do porquê eu estava saindo. No entanto, que relevância isto teria na prática? Foi então, que no meu primeiro dia de trabalho de 2019, mais precisamente às 10h do dia 7 de janeiro, eu chamei meus dois chefes para conversar.

Informei que eu estava muito feliz em ter voltado para a equipe, porque eu passaria meus últimos dias de trabalho entre as pessoas que me receberam para trabalhar naquela empresa. No entanto, eu gostaria que eles entendessem que era hora de eu seguir por outros caminhos.

Foi aí que eu comecei a trabalhar demitido, como digo hoje. Trabalhei por mais dois meses, até o dia primeiro de março de 2019. Só que isso é história para outro texto, que talvez você espere que seja menor do que este.

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