O que você faz da vida?

Toda vez que me perguntam com o que trabalho desta forma, me encontro em uma situação que não é tão fácil de responder

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Homem de terno

Já escrevi por aqui, mais de uma vez, sobre o fato de eu ter pedido demissão no começo de 2019. Já estou no final do ano e ainda não estou envolvido em nenhuma atividade remunerada. Eu não tenho nada que eu possa dizer que invisto horas em troca de renda.

Nesta situação, toda vez que me perguntam com o que trabalho, me encontro em uma situação que não é tão fácil de responder. Quando digo que não estou trabalhando, mas também não estou procurando trabalho, a conversa sempre fica mais complexa do que a pessoa esperava quando fez a pergunta.

A última sugestão que as pessoas dão é que estou em um ano sabático. Sim, ano e não período. Como se eu fosse fazer um intervalo e depois voltar para a velha vida. Também não consigo dizer que é isso que estou fazendo.

Enfim, no meio disso tudo, uma situação começou a me chamar a atenção. Muitas vezes, na hora de perguntar com o que trabalho, as pessoas me perguntam o que eu faço da vida. Tanto no português, quanto no inglês, a forma de se perguntar é bem parecida. Apesar de eu achar que no inglês é ainda mais comum perguntarem desse jeito.

Só que por não ter um trabalho e estar em uma fase da vida que muita gente nunca passou, a pergunta me soa estranha.

E a verdade é que eu acho que faço muito mais da vida agora do que há um ano. E eu tenho várias respostas sobre o que faço da vida, mas infelizmente nenhuma que responda o que estão me perguntando.

Já era difícil antes

Sempre foi difícil explicar minha profissão, antes mesmo de eu pedir demissão. Eu sou um engenheiro que se especializou em telecomunicações. Meu curso tem um nome que é usado só na faculdade que eu frequentei e mais confunde do que ajuda.

Eu brincava que eu nunca conseguia explicar para a minha vó o que eu estava estudando. Ela chegou a me dizer que realmente jamais iria entender. Assim, como ela não sabia direito o que eu faria, ao invés de pedir ajuda com algo que eu soubesse fazer, quando precisasse, ela me pediria dinheiro. Sim, minha vó é uma figura.

Logo depois de sair da engenharia eu acabei indo trabalhar em uma empresa que apoiava Pequenos Negócios. A empresa atua em todas as frentes que podem ser benéficas para este segmento de empresas. Eu acabei indo trabalhar na equipe de planejamento, onde eu fazia de tudo um pouco.

Depois fui parar em uma área de inovação, com foco em transformação digital. Minha missão em explicar para minha vó o que eu fazia da vida se tornava cada vez mais complexa. No entanto, eu sempre tentava. Só que agora, onde supostamente não faço nada da vida, eu comecei a olhar a situação de outra forma.

E agora que não faço nada da vida, o que faço?

Quem já sabe que não estou trabalhando, me aborda perguntando como está minha rotina, já que agora não tenho o que fazer da vida, conforme as palavras que escuto. Talvez este tipo de pergunta me chamou mais a atenção, pois me incomoda mais.

Quando me perguntam o que faço da vida é uma coisa. Outra coisa é já afirmarem que eu não faço nada da vida e o que estou fazendo a respeito disso. É quase como, se quisessem saber o que faço com meu tempo livre, mas principalmente como estou fazendo para voltar a fazer algo.

E o que percebi é que boa parte do tempo, e isso ainda acontece hoje, eu acabo jogando este jogo de expectativas. Eu tento escolher as melhores palavras para dizer que não sou um inútil. Como se eu tivesse que de alguma forma dizer que faço algo da vida. Eu tento mascarar algo que seja parecido com um trabalho. Talvez isso já era sinalizado quando eu tentava explicar meu trabalho para a minha vó e para outras pessoas, apesar de ter usado ela como exemplo.

Este blog mesmo, quando surgiu, pareceu me dar um certo conforto em poder dizer para as pessoas que alguma coisa eu estou fazendo. Talvez este seja um dos motivos por até hoje eu escrever para mim e mais algumas pessoas muito íntimas.

Não quero escrever algo que não acredito só para agradar quem lê ou usar este blog como desculpa para preencher meu tempo livre. É algo que ainda preciso entender melhor em minha própria mente.

Na maior parte do tempo eu não sinto a necessidade em dar respostas no sentido de prestar contas. Certamente, quando não me perguntam nada eu não sinto necessidade de dar publicidade sobre o que ando fazendo de forma espontânea. Também acredito que a cada dia que passa eu aprendo a extrair mais da minha vida. No entanto, esse tipo de pergunta ainda pode me pegar desarmado.

Todos sabemos que trabalho não é tudo

Pessoas com roupa de banho pulando na agua

Para você pode parecer uma bobagem eu estar escrevendo sobre uma simples e inofensiva frase. No entanto, eu acho que a forma que nos comunicamos influência bastante nossa rotina. Eu sei que todos sabem que o trabalho não é tudo, mas a maioria de nós parece viver como se fosse.

Gastar dezenas de horas por semana apenas para receber um salário, hoje me parece muito pouco. Tantas outras pessoas vivem em um modelo de vida diferente. Inclusive muita gente gosta de trabalhar muitas e muitas horas apenas por motivos financeiros. Não estou duvidando nisso. No entanto, não encaixa no que estou esperando para mim.

Quando alguém me pergunta sobre o que faço na vida pensando em meu trabalho, me parece muito limitador. Porém, ao sair do trabalho, sinto que fez com que parecesse que eu era alguém que não tem ambição. Alguém que não dá importância ao aspecto financeiro ou no mínimo decidiu que aumentar o patrimônio não é algo relevante.

Só que para mim é exatamente o contrário. Acredito que minha ambição cresceu muito mais do que eu podia imaginar.

Foi por isso que sai do trabalho. Eu quero poder explorar não só o lado financeiro, mas meu tempo, minhas habilidades, minhas relações, o que posso aprender, onde posso estar, minha paz de espírito.

Eu quero ter o máximo possível, na maior quantidade de aspectos possíveis e de forma balanceada. Investir dezenas de horas por semana apenas com meu trabalho, me pareceu pouco ambicioso.

É longe de ser simples e fácil

Confesso. Aquele sentimento de estar fora do padrão esperado, de uma carreira linear, me gera uma certa angústia. A palavra que já usei aqui, inútil, é uma palavra que as vezes ronda o pensamento. Afinal, até hoje eu não tenho um ponto bem formado onde quero chegar. Eu sei mais onde não quero estar do que onde quero. Onde isso tudo vai dar?

Não ter clareza onde quero investir meu tempo, ao mesmo tempo que é divertido e faz com que eu aprenda sobre mim, é desconfortável. Será que tudo isso é apenas um ato de irresponsabilidade? Será que no futuro vou sentir falta da rotina anterior? Só estava enjoado da mesmice e o diferente hoje vai ser mesmice amanhã?

Alguns dias são bastante positivos. Tenho ótimas experiências, aprendo coisas novas, produzo alguma coisa – nem que seja um texto como esse – ou apenas invisto estar com as pessoas que gosto. Estes dias me dão um conforto que independente de onde eu queira chegar, eles estão me levando para um destino que eu estarei feliz em chegar.

No entanto, alguns outros dias eu sinto que são apenas desperdiçados. Eu acabo simplesmente procrastinando e gastando tempo com coisas irrelevantes. Esses são os dias que as dúvidas mais batem. O curioso é que parece que quando a dúvida bate é que eu faço o dia ser desperdiçado e não quando o dia é desperdiçado que a dúvida bate.

Enfim, por agora eu não tenho muitas respostas. E as dúvidas até me deixam desconfortáveis, mas após respirar e pensar com cuidado, elas também me deixam excitado com as possibilidades do futuro.

E agora não é hora de se preocupar ao ponto de desistir de nada. Tenho muito o que aprender com este novo processo que estou vivendo. Ter a disciplina de me comprometer e dar tempo ao tempo é o que interessa.

E se tudo der errado? Ah, se tudo der errado, aí eu arrumo um trabalho.

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